“Essas bolhas que você tem nos dedos das mãos e dos pés têm uma justificativa: acido úrico”, era o que Inês dizia, fruta cítrica, eu despreocupado. Talvez tenha me tornado filho da Angola em 1888, ou do Cabo Verde, no mesmo ano, ou do Brasil muito antes, em 20 de março de 1662, que de Portugal sempre fui. Terei enfim me libertado das presenças absurdas, das bruxas fesceninas, dos gozos, dos desejos, de tudo que não me consola.
Eu sentia algo triste quando Sophia me olhava e sorria. O dia mal começara, não tinha sol, tinha picnic e grama, atrás de uma Igreja, embaixo de uma árvore. O corpo tão conhecido esperava o bronze, enquanto eu, aplicando meus remédios, fugia daquele lugar, daquelas mulheres, porém tudo me fugia também. No imenso gramado verde-marrom eu depositava as minhas esperanças e relembrava que “sou tudo aquilo que me falta, e mais, sou também o óbvio do presente, a dor na carne, renitente, aquele que ri alto, palhaço sem fantasia, entrecortada a gargalhada por soluços e silêncio de solidão”. Concluí no silêncio que a culpa era das cartas jamais entregues, que bom é o Rio de Janeiro, onde o calor é intenso, as roupas são mínimas, os corpos são malhados, a vista é maravilhosa, cenário ideal para o amor - enchia-me de esperança ver um sorriso doce, ouvir um suspiro cansado depois de um orgasmo simultâneo. Tudo era verde-marrom enquanto eu fugia, enquanto a confusão chegava aos meus pulmões.