"Após passar a manhã dando aula, Sartre e Beauvoir instalavam-se num café para escrever. O preferido era o Flore, no Boulevard Saint-Germain, com suas cadeiras vermelhas e seus espelhos. O café não era muito conhecido na época, e os soldados alemães quase nunca lá punham os pés. Mas o melhor era o aquecimento da casa. Os quatro invernos da Ocupação seriam mais severos que o normal, com neve e gelo nas ruas de Paris. O carvão era racionado e os cortes de energia elétrica eram comuns. No meio do Flore, havia um enorme fogão de sala, que o proprietário mantinha bem abastecido com seu estoque de carvão comprado no mercado negro.
Sartre e Beauvoir trabalhavam em geral no segundo andar, onde era mais silencioso. Sentavam-se em extremidades opostas da sala para não caírem na tentação de conversar e – envoltos em fumaça de tabaco, em meio ao tilintar das xícaras de café, ao burburinho das conversas e à distração do movimento das pessoas que iam ao banheiro ou falar ao telefone – escreviam. Ambos usavam canetas-tinteiro. A letra de Sartre era pequena, regular e profissional. A de Simone, irregular, era quase impossível de decifrar. Até mesmo Sartre se queixava.
Na mesa ao lado da pilha de papéis do casal havia um pequeno bule de chá, uma xícara, um pires e um cinzeiro. Como todo mundo, eles fumavam. O tabaco era escasso durante a guerra, e Sartre vasculhava o chão do café à cata de guimbas de cigarro para abastecer seu cachimbo. Beauvoir gostava da sensação de um cigarro na mão, mas não tragava, nem se importava de ficar sem cigarros."
(Tête-à-Tête, Hazel Rowley)Sartre e Beauvoir trabalhavam em geral no segundo andar, onde era mais silencioso. Sentavam-se em extremidades opostas da sala para não caírem na tentação de conversar e – envoltos em fumaça de tabaco, em meio ao tilintar das xícaras de café, ao burburinho das conversas e à distração do movimento das pessoas que iam ao banheiro ou falar ao telefone – escreviam. Ambos usavam canetas-tinteiro. A letra de Sartre era pequena, regular e profissional. A de Simone, irregular, era quase impossível de decifrar. Até mesmo Sartre se queixava.
Na mesa ao lado da pilha de papéis do casal havia um pequeno bule de chá, uma xícara, um pires e um cinzeiro. Como todo mundo, eles fumavam. O tabaco era escasso durante a guerra, e Sartre vasculhava o chão do café à cata de guimbas de cigarro para abastecer seu cachimbo. Beauvoir gostava da sensação de um cigarro na mão, mas não tragava, nem se importava de ficar sem cigarros."