III
Conheci Fernanda enquanto ela filmava seu trigésimo-alguma-coisa filme no ano; Mantinha a média incrível de atuar em um filme por semana, e apesar de ter dificuldade em se lembrar do texto, isso não se mostrava um obstáculo para sua extraordinária atuação – e para seu consequente sucesso. Não sou dado ao lirismo, o modo como se deu nosso encontro é um exemplo prático disso (há dez anos me descobri inepto a qualquer inclinação lírica, quando ainda cria na poesia e em todo universo que dela emerge, renegando meus ídolos, incinerando meus versos livres que apenas retratavam o pesar que jamais existiu em mim). Ela alongava a perna em uma barra – suas pernas formavam um ângulo de noventa graus –, vestida de bailarina, enquanto um homem de um metro e noventa, musculoso, lhe penetrava. O que eu fazia ali? Apenas curiosidade ou para presenciar a vida acontecer por outro ponto de vista, o da lascívia desmedida, e encontrar inspiração para meu romance de estreia; ou isto ou aquilo. Enquanto contorcia seu corpo, seus olhos encontraram os meus em meio à multidão e neles se fixaram; Experimentei uma espécie de hipnose, que durou cinco minutos até o diretor gritar “corta” para que pudessem mudar de posição. Fui até uma sala ao lado do set de filmagem, vi uma bolsa sob uma toalha, remexi seu interior, achei um documento “Fernanda”, fechei a bolsa e a coloquei embaixo do braço, esperei mais três minutos e fui embora sem ser notado.

PILOTO

Minha foto
Bacharel em direito pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) - MG. "Um sujeito preguiçoso e frio, algo quimérico, ravoável no fundo, que malandramente construiu para si próprio uma felicidade medíocre e sólida feita de inércia e que ele justifica de quando em vez mediante reflexões elevadas. Não é isso que sou?" A Idade da Razão - Jean-Paul Sartre.

FORÇA MOTORA

TWITTER